quinta-feira, 25 de maio de 2017

Ela...







Mais uma vez ela chorou. Tentou de todas as maneiras segurar, ser forte, mas não deu. Quando o dia amanheceu ela recolheu seus sonhos que estavam espalhados pelo quarto, guardou na gaveta do criado mudo e vestiu a armadura de todo dia. Fez uma anotação mental de revisar a gaveta, já que os sentimentos estavam transbordando a ponto de escorrerem pelo chão... Ela não sabia que aquelas pequenas fugas acabavam por alimentar estes seres, que se multiplicavam vertiginosamente por trás das cortinas do quarto revirado. Meio que atordoada, ela se olhou no espelho: droga! mais um beijo queimava no ombro... Tentou pentear os cabelos, mas o emaranhado de sussurros e gemidos fizeram com que a escova caisse das mãos. Abriu o chuveiro e a súplica morna que caiu sobre seu corpo tinha o cheiro do perfume dele. Ela se lavou com o suor dele escorrendo pelo corpo e fechou os olhos. Se ficasse em silencio, conseguia ouvir a voz  dele vindo por baixo da porta, se infiltrando pelas frestas dos cílios entreabertos. O guarda roupas tinha vários sorrisos pendurados nos cabides, organizados milimetricamente. Mas quando ela tentou vestir, nenhum deles cabia na tristeza dela. Lentamente, ela cerrou os sonhos. Com as mãos vazias e o peito cheio, ela uivou  sua melancolia. Ela morreu sozinha, sufocada com tanto amor.

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