domingo, 4 de junho de 2017

Ela acordou cansada...








Ela acordou cansada já. 
Devagar, ela abriu os olhos e tentou olhar pra janela. A claridade do dia machucou seus olhos e ela os fechou novamente. Virou para o outro lado e tentou voltar a dormir. O diacho é que ela não conseguia parar de pensar. A memória daquelas noites de paz não queria se deixar apagar, e insistia em mostrar pra ela o vazio que agora tinha. De forma quase que agressiva, abria um buraco cada vez maior no peito dela. E a cratera que vinha se formando há algumas noites sangrava por todos os carinhos que ainda queimavam na pele...
Fazia tempo que a noite dela se confundia com a presença dele... e a noite se agigantava na ausência de seu toque: o ar, sem seu perfume, asfixiava e derramava lágrimas geladas. Sim, porque na solidão do quarto a saudade tinha feito seu ninho e a risada já tinha congelado pelas paredes. Nenhum único grito acordava os momentos vividos...
Ela acordou cansada já. 
De olhos fechados, reviu as cenas que insistiam em dançar sob os holofotes da dor... Olhou a tela do telefone. Nada. Nem chamadas, nem recados. Nada. Ela sentou na cama e se abraçou instintivamente. Tinha sal na pele. Cada pedaço seu latejava e gemia. Seus olhos estavam cobertos de névoa, e seus lábios secos se partiam e derramavam palavras soltas pela cama.
Talvez por tudo isso ela decidiu não acordar. Deitou de novo, abraçou seu travesseiro e deixou que o dia ficasse do lado de fora da janela. Mentalmente, ela tocou cada parte do corpo dele. Em silencio, ela fez uma prece. E, por não ter aonde se agarrar, ela desistiu de lutar.
Ela acordou cansada.
Ela cansou de acordar.

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