sábado, 15 de julho de 2017

Desculpa, amor...







                 Desculpa, amor, eu sei que é tarde, mas eu preciso ir. Lá fora a cidade grita, as luzes piscam, a vida segue. Desculpa. Sei que já se faz tarde demais para isso, nossos corpos, nossos seres já se misturaram indefinidamente. Talvez ao me levantar eu acabe carregando algo de teu comigo, talvez deixe alguma parte minha... não sei.
                     Sei que é tarde, já permiti que teu cheiro se entranhasse em minhas memórias, e teu suor está salgado do meu. Não consigo. Te deixar é doloroso, meu verso sangra... mas a solidão, a minha eterna companheira, é possessiva, é ciumenta, é minha dona. Provavelmente terei mais uma noite insone, chorarei, e recordarei de cada detalhe: do sabor de teus lábios, da tua carícia suave, da tua respiração em meus ombros... Tudo isso ficou gravado em mim, amor. Tudo isso me conforta e me enforca ao mesmo tempo. Meus sentidos embaçados, meus lábios mudos, teu olhar distante.

                       Eu te perco e me dilacero quando parto, eu sei. Mas é preciso, amor... me perdoa...

                  Eu tinha tanta coisa pra te dizer ainda... eram tantos os abraços a te dar... eu tinha um sonho pra gente sonhar junto! Tinha teus braços abrindo minhas janelas, tinha nosso retrato na parede do nosso lar. Aquele retrato, lembras? Eu guardei no meu abraço a tua imagem... Deus! Por que tudo isso? Prá que esta ansiedade louca? por que essa tortura insana? Eu queria conseguir relaxar no teu regaço... eu queria viver o sonho... mas não posso. Desculpa, amor... a dor me invade, e eu já não resisto. Mais uma vez eu vou embora, desculpa, eu vou partir.



Foto: Simone Luz

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2 Comentários:

Às 15 de julho de 2017 às 21:10 , Blogger Tanialis disse...

Putz! Que sacanagem com o "amor"...
Tanto amor, pra nada?.

 
Às 15 de julho de 2017 às 21:44 , Blogger Céres Felski disse...

É que precisamos tambem estar inteiros, né? Amando a nossa propria companhia... ������

 

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