segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Memórias...











                          Ontem foi domingo e você não veio. Mais uma vez, fiquei na janela esperando que teu carro passasse e, com sorte, você resolvesse parar. Acordei ansiosa, tomei um banho demorado e vesti aquele vestido que era o teu favorito, lembra? Aquele com as costas nuas, onde tuas mãos se demoravam e se insinuavam ávidas em minhas curvas. Aquele que, invariavelmente, terminava caído em um canto qualquer da casa, enquanto você me dava as estrelas de presente... eu não esqueci nenhum detalhe. O teu perfume gostoso ainda parece flutuar pelos corredores vazios... Deixei meus cabelos soltos, daquele jeito que você gostava que eu deixasse: levemente desarrumado, como se eu tivesse acabado de levantar. Você dizia que assim eu ficava mais bonita, lembra? Colori levemente meus lábios com aquele batom vermelho que você me deu quando fizemos aquela viagem longa: eu tinha esquecido o meu, e você queria que eu o usasse para deixar todos com inveja da mulher exuberante que te acompanhava. Eu me sentia a rainha. Eu me sentia uma deusa a teu lado. Elegante num salto bem alto, amparada por teu braço. Sabe aquele perfume que comprei naquele dia que fomos passear de barco? Eu ainda uso, principalmente aos domingos, pra te esperar... Tenho ficado sempre a janela, observando ansiosa cada carro que passa. O sol tem me cortejado enquanto a leve brisa me acaricia... 
                    Um suave arrepio percorre minha pele... meus lábios ficam entreabertos... Ontem foi domingo e você não veio. Tive tempo pra pensar, pra observar cada detalhe. Minha imagem refletida no vidro na janela... meus pés descalços... 
                          Ontem foi domingo. Hoje é um novo dia.




Foto: Simone Luz


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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Simplesmente tua













                          É sério. Eu não sabia que cabia tanto amor em mim ate esbarrar com teus olhos. Talvez eu nunca ficasse sabendo se, naquele dia, sucumbindo a inércia, eu tivesse permanecido em casa. Sim, porque eu meu sofá estávamos numa relação estável: assistíamos filmes e séries juntos todas as noite há meses. Foi com ele que desabafei todas as vezes que a solidão se alojou em meu peito. Foi no aconchego de seu abraço que adormeci muitas vezes...
                               Quantas vezes, exausta de rolar de um lado para o outro na cama, levantei por fim e busquei na sala o meu refúgio? As almofadas já com meu perfume impregnado, parceiras de abraços incontidos e suspiros demorados? Sim, esta parceria estava superando todas as expectativas e já poderia dizer que estávamos em uma "união estável"!
                         Mas, desafiando todas as leis da preguiça, eu resolvi sair de casa. Não que eu quisesse interagir, mas havia em mim uma necessidade premente de ver o sol, de sentir o vento, de ver pessoas. As vezes tenho isso: uma vontade de observar a vida lá fora, de sentir os aromas e me embriagar com os ruidos da selva urbana. Momentos que a fome de vida me impele a sair de mim mesma.
                         Lembro bem do momento em que te vi: um sopro de fantasia levitava em tua volta, serpenteando lascivamente entre teus cabelos. Meu olhar se demorou em cada movimento teu, enquanto meu coração saltitava enlouquecido. Quando passei por ti, teu cheiro veio ao meu encontro, entorpecendo cada fibra do meu ser. Não tive coragem de me aproximar, de puxar conversa, nada... Por horas, permaneci a te observar enquanto meus olhos se embriagavam com tua imagem.
                           Foi assim que aconteceu. Eu te vi e já te amei. Naquele dia eu descobri que não me pertencia, que sempre havia sido tua, apenas não tinha te encontrando ainda.



Foto: Simone Luz

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